Na fila do centro de saude

'Não demostro mas sou mais frágil que uma lâmpada'

Na fila do centro de saude

Apetece-me pôr o Pet Cemetery dos Ramones a tocar a ver se os velhos dançam um bocado e rezingam menos..

A Stevie Nicks é maravilhosa e pronto....

Está a chover, estou de folga e sozinha em casa, isto pede Fleetwood Mac bem alto e muita cantoria a plenos pulmões.


Sing with me now!

Iris Apfel ou como eu quero ser quando for mais velha


Trabalhar numa loja...

cola poster, descola poster, mais para a direita, ai que foi demais, olha que está torto, agora chega mais para a esquerda, tá bom, agora o outro, afinal não, cola o outro primeiro que tem que ter mais destaque, é pequeno demais e não se vê, se calhar temos que tirar todos ou então mantemos e que se lixe, o que é que achas?, acho que estava bem à primeira, pois se calhar tinhas razão, vou chamar o João, o João diz que tanto lhe faz, mantemos como estava? se calhar era melhor.


Apanho mais canseiras a colar e a descolar posters que a fazer inventários.

Ninguém Tem Pena das Pessoas Felizes

Ninguém tem pena das pessoas felizes. Os Portugueses adoram ter angústias, inseguranças, dúvidas existenciais dilacerantes, porque é isso que funciona na nossa sociedade. As pessoas com problemas são sempre mais interessantes. Nós, os tontos, não temos interesse nenhum porque somos felizes. Somos felizes, somos tontaços, não podemos ter graça nem salvação. Muitos felizardos (a própria palavra tem um soar repelente, rimador de «javardo») vêem-se obrigados a fingir a dor que deveras não sentem, só para poderem «brincar» com os outros meninos. 
É assim. Chega um infeliz ao pé de nós e diz que não sabe se há-de ir beber uma cerveja ou matar-se. E pergunta, depois de ter feito o inventário das tristezas das últimas 24 horas: «E tu? Sempre bem disposto, não?». O que é que se pode responder? Apetece mentir e dizer que nos morreu uma avó, que nos atraiçoou uma namorada, que nos atropelaram a cadelinha ali na estrada de Sines. 
E, no entanto, as pessoas felizes também sofrem muito. Sofrem, sobretudo, de «culpa». Se elas estão felizes, rodeadas de pessoas tristes, é lógico que pensem que há ali qualquer coisa que não bate certo. As infelizes acusam sempre os felizes de terem a culpa. É como a polícia que vai à procura de quem roubou as jóias e chega à taberna e prende o meliante com ar mais bem disposto. Em Portugal, se alguém se mostra feliz é logo suspeito de tudo e mais alguma coisa. «Julgas que é por acaso que aquele marmanjo anda tão bem disposto?», diz o espertalhão para outro macambúzio. É normal andar muito em baixo, mas há gato se alguém andar nem que seja só um bocadinho «em cima». Pensam logo que é «em cima» de alguém. 

Ser feliz no meio de muita gente infeliz é como ser muito rico no meio de um bairro-de-lata. Só sabe bem a quem for perverso. 
Infelizmente, a felicidade não é contagiosa. A alegria, sim, e a boa disposição, talvez, mas a felicidade, jamais. Porque a felicidade não pode ser partilhada, não pode ser explicada, não tem propriamente razão. Não se pode rir em Portugal sem que pensem que se está a rir de alguém ou de qualquer coisa. Um sorriso que se sorria a uma pessoa desconhecida, só para desabafar, é imediatamente mal interpretado. Em Portugal, as pessoas felizes sofrem de ser confundidas com as pessoas contentes. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'